sábado, 21 de abril de 2018

A QUEDA D'UM ANJO - PERSONAGENS PRINCIPAIS


Os dezoito personagens de “A queda de um anjo” são caricaturas, arquétipos humanos da sociedade portuguesa da época. Entre eles, destacamos:

1. Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda

          No auge da queda, a personagem tem 49 anos. Nasceu em 1815, na aldeia de Caçarelhos, termo de Miranda. Filho de família de sangue limpo, o pai tinha o mesmo nome, e a mãe chamava-se D. Basilissa Escolástica. Era filho único do morgado da Agra de Freimas, bom filho, que iniciou os estudos de latinidade no seminário bracarense. Com a morte do pai, renunciou à carreira das letras, mas deu-se muito à leitura de copiosa livraria. Casou pelos vinte anos com a morgada de Travanca, D. Teodora Barbuda de Figueiroa, uma prima rica com a qual casa com o interesse de juntar duas ricas heranças. No dia seguinte à noite nupcial, por volta das sete horas da manhã já estava de pé nos seus afazeres. Lia até tarde da noite noite. Entre seus livros estavam a legislação antiga, as genealogias, etc.

Conhecia um pouco o francês, falava fluentemente o latim e interpretava o grego com correção. Tinha uma ótima memória pronta e era no mínimo erudito em história antiga. Sabia detalhes sobre fatos e pessoas de Portugal. Defendia os valores e a moral do passado. Tinha uma formação intelectual desvinculada do seu tempo, fundamentada na leitura de clássicos (alfarrábios), que lhe dão uma formação culta, embora desfasada da realidade. Calisto era um homem quieto e calado. Não se posicionava contra o progresso, mas não queria ser por ele pressionado. Na fase inicial da trama agiu como um homem tradicional, mas após mudar-se para Lisboa, aos poucos, adere à modernidade.
O narrador infere que o leitor construiu uma imagem equivocada da figura de Calisto: “Calisto Elói não é a figura que pensam”. Ele sugere que o leitor imagina a personagem como um home grotesco e diz que de propósito não descreveu a imagem de Calisto para que o leitor construísse a imagem da citada personagem independentemente da narrativa. Mas o narrador continua o discurso com a descrição de alguns traços da personagem. Calisto não era desajeitado, era magro com compleição afidalgada. O abdome era saliente, o nariz avermelhado e o perfil curvado em razão da posição que costumava ler. Estatura um pouco acima da média e pernas direitas.
Em 1840, aos 25 anos, aceitou a presidência municipal de Miranda. A sua defesa da tradição e a aversão às normas atuais eram tão exageradas que, ao ser designado para governar a Câmara de Miranda, resolveu ressuscitar a legislação dos antigos forais. Foi muito criticado e terminou abandonando a presidência da Câmara no mesmo dia que assumiu.
É o ‘anjo’ que vai sofrer a ‘queda’ indicada no título da obra. Foi eleito para representar a sua terra no Parlamento em Lisboa. Após ser convencido a concorrer à eleição, resolve que vai representar seus conterrâneos na intenção de reduzir os impostos. Após ser eleito e antes de viajar para Lisboa, recorre aos seus antigos livros para ler tudo e conhecer melhor a capital. Não se apercebe que as leituras desatualizadas podiam lhe trazer alguns transtornos, como foi o caso da situação na qual procurou chafarizes com indicações medicinais nos seus livros antigos. Terminou por contrair doenças relacionadas à poluição das fontes lisboetas. Até partir para a capital, vestia-se sempre à moda antiga.
O guarda-roupa era modesto, salvo o chapéu armado. Usava calção de tafetá e espadim. Vestia-se de briche da Golegã, e dos alfaiates de Miranda. A gola e portinholas da casaca eram sérias demais. Usava calças rematando em polainas abotoadas de madrepérola.
Ao chegar a Lisboa, alugou uma casa no bairro de Alfama, por saber da importância histórica da parte antiga da cidade. Ao cabo de três dias, mudou-se para uma rua mais limpa, pois os lamaçais de Alfama lhe provocaram um escorregão e um grande constrangimento ao ser vaiado publicamente na hora em que caiu.
Iniciada a vida social e parlamentar na capital, Calisto continuou a ser um rígido defensor da moralidade.  Inicialmente, manteve-se fiel à mulher distante (Teodora). Chega a tomar para si o nobre desafio de redimir uma filha (Catarina) de um comendador amigo seu (Sarmento), conseguindo tirá-la de uma situação de adultério. No entanto, Calisto não imaginava que a irmã de Catarina seria o motivo  da sua primeira tentação para a traição conjugal.
A personagem em análise chegou à Capital e ao Parlamento com boas intenções. Inicialmente suas preleções eram alvo de risos e reboliços no Parlamento. Mas aos poucos, consegue usar com maestria a sua vocação para a oratória. O dom da palavra favoreceu sua caminhada política. Queria usar seus conhecimentos para fortalecer a moral e os bons cosutumes. No Parlamento, ficou conhecido pela fala franca e rude. Sem temor atacava a hipocrisia e as leis aprovadas com interesses particulares. Defendia com vigor o que julgava ser o interesse popular. No entanto, suas preleções, ao menos na fase inicial, tornaram-se alvo de risos, críticas e desavenças com outros deputados.
Em razão de suas preleções no Parlamento, começou a ter o apoio de alguns parlamentares, mas encontrou também forte oposição, como foi o caso o Dr. Libório de Meireles, que era um orador liberal de origem pobre, mas que tinha forte influência no Parlamento. Desde que conhecera Libório, Calisto não poupava críticas negativas ao novo oponente. Com o passar do tempo, Calisto terminou adotando o mesmo discurso de Libório.
          Certo dia, Camilo começou a olhar apaixonadamente para Adelaide, irmã de Catarina, a mulher que havia resgatado da situação de adultério. Chegou à atitude infantil de escrever versos para que Adelaide lesse. Começou a mudar o estilo das vestimentas, na intenção de cortejar Adelaide, qual não gostou de estar sendo cortejada por um homem casado. Calisto não foi correspondido.
           Calisto não gostou de ter sido preterido por Adelaide, a qual preferiu abrir seu coração a outro homem, Vasco da Cunha,  mas seguiu em frente. Calisto vai-se transformando à medida que vai mudando a forma de vestir-se. A cada vez que falava aos parlamentares mudava a impressão que lhes causava. Os camarotes do Parlamentos eram fortemente concorridos por espectadores que queriam sorrir do modo como Calisto vestia-se e falava ao público e suas intrigas com os parlamentares, especialmente o Dr Libório. Aos poucos isto vai mudando, pois Calisto começa a trajar roupas mais modernas e a usar uma linguagem mais aproximada dos oradores mais eloquentes.
Outro fato que gerou grande reviravolta na vida de Calisto foi ter conhecido Ifigênia, que era uma viúva de um general (Ponce de Leão). Ifigênia procurou Calisto para solicitar-lhe o apoio em relação a uma pensão. Descobriu que ela era uma prima afastada. Resolveu defender a causa da prima e terminou tornando-se seu amante. Talvez o início desse novo relacionamento, inclusive com a providência de uma casa para a amante, tenha sido a concretização total da queda.
De Lisboa, juntamente com Ifigênia, Calisto fez uma viagem a Paris e, embora tenha passado pouco tempo em terras francesas, voltou a Lisboa radicalmente mudado. Passou a trajar as roupas da moda mais recente em Paris, avançadas para os costumes lisboetas. Melhorou ainda mais o estilo oratório, aproximando-se mais dos políticos ligados ao governo. Começou a ampliar seus conhecimentos com a literatura francesa moderna. Deixou o bigode e o cavanhaque, trocou o rapé pelo charuto e passou a gastar dinheiro desmedidamente.
Esqueceu a esposa Teodora.
Ao final da história, Calisto demonstra certa maturidade ao tratar da separação com serenidade, mesmo sabendo que isso significaria que a ex-mulher Teodora também teria uma vida amorosa com outro homem (Lopo de Gambôa, um primo pobre de Teodora).
           Paralelo entre a ficção e a realidade:
- Calisto e Teixeira da Mota (fidalgo eleito deputado e tornou-se um depravado na vida lisboeta).
- Dr. Libório e o Dr. António Aires de Gouveia (autor de uma proposta de reforma das cadeias e que teve algum atrito com Camilo, na vida real).

2. Teodora Barbuda de Figueiroa

         Teodora costurava com perfeição. Era admirada pela família e citada como exemplo na região. Tornou-se noiva de Calisto sem sofrimento, obedecendo à decisão do pai. Não ia alegre nem triste. Tanto se lhe dava casar com o primo Calisto como com o primo Leonardo. Às sete horas do dia seguinte à noite do casamento, Teodora já estava de pé limpando a casa. Após o casamento assumiu a função dos cuidados domésticos da sua sogra e a administração da casa. Prima e esposa de Calisto, com o qual casou em uma relação baseada no interesse financeiro de aumentar o patrimônio familiar. Era uma esposa devotada ao marido, provinciana, pouco interessante, sem graça, rude, banal, com uma linguagem proverbial, apenas preocupada com a lida da casa e a lavoura.
         Com a partida do marido para a capital, fica responsável pela administração do patrimônio familiar. Também usa trajes antigos e fora de moda. Tem origem rica, como morgada de Travanca. Quando percebe que o marido a está deixando de lado, ameaça-o com a possibilidade de separação dos patrimônios, de modo que cada um siga sua própria vida. Quando Calisto concorda com a separação, Teodora entra em desespero. Durante todo o enredo, Teodora faz a figura da mulher do lar, preocupada e até empenhada nos trabalhos do campo. Da mesma forma que o marido, Teodora também passa por um processo de queda. Depois de abandonada pelo marido, termina cedendo aos cortejos do interesseiro primo Lopo de Gambôa, com este, em uma relação conjugal ilícita, passa a morar e tem dois filhos.

3. Catarina Sarmento

           Filha do comendador Sarmento, casada, mas trai o marido com D. Bruno Mascarenhas.  Após a intervenção de Calisto, arrepende-se da traição, embora não confesse ao marido. Era leitora da literatura moderna francesa, como Balsac, que dá a entender que tal literatura provocou péssima influência na personagem.

4. Adelaide Sarmento

         Filha do comendador Sarmento, solteira. Fica agradecida a Calisto por ter evitado uma catástrofe no casamento da irmã, torna-se amiga do citado deputado, mas corta essa amizade quando percebe que está sendo cortejada por Calisto, um home casado. Depois que rejeita Calisto, fica noiva de Vasco da Cunha.

5. Ifigênia

            Mulher brasileira, viúva do brigadeiro Gonçalo Ponce de Leão. Embora seja uma viúva, aos seus 39 anos, mantém-se formosa e passa a ser o objeto de admiração de Calisto. Aproxima-se do deputado Calisto para pedir ajudar no tocante à pensão do marido. Ao conversar com Calisto, conta sua triste história de viúva e descobre seu parentesco distante com o deputado. Torna-se objeto da paíxão de Calisto. Aceita os cuidados do deputado, cuidados esses que incluíram a nova casa que ele providenciou para que ela morasse.
           Aos poucos vai cedendo à atenção e aos cuidados de Calisto. Cuidados que se transformam em cortejo e, por fim, em uma relação conjugal ilícita inicialmente às escondidas. Passou a receber o deputado em visitas amorosas vespertinas, a fim de evitar o falatório da sociedade. À noite, Calisto voltava para o Hotel para dormir e caracterizar que o casal adúltero vivia conforme os bons costumes das famílias de respeito, visto que Calisto era um homem casado.

6. Lopo de Gambôa

É um primo pobre de Teodora. Logo que percebeu o desinteresse de Calisto, viu em Teodora uma ótima oportunidade para ascensão social. Teodora trata o primo com consideração, mas mentamse fiel a Calisto. Lopo insiste e elabora um plano no qual finge estar apoiando e projetgendo os interesses de Calisto, mas na verdade tece uma estratégia na qual revela os atos de traição de Calisto ao mesmo tempo em que apoia e acalenta Teodora. O plano dá certo e Lopo termina por estabelecer com Teodora uma relação extraconjugal paroibida socialmente, mas ao mesmo tempo é uma relação pública, pois os dois amantes passam a morar junto e têm dois filhos.


7. Dr. Libório de Meireles

É um deputado portuense, jovem de muita sabedoria, de trinta e dois anos, cara honesta, e posturas contemplativas. Logo cedo, aos dezoito anos escreveu livros de poemas satíricos contra os titulares portuenses. Não obteve sucesso como poeta. Era de origem pobre, filho de um tendeiro, que entrara na estrada franca da fortuna próspera, produzindo licores e aguardente de nabo. Em Coimbra, fez-se examinar em latim e foi reprovado. Ficou revoltado com os examinadores e resolveu destes se vingar. Começou a se autoafirmar doutor em latim. Traduziu um poema latino com tanta clareza e fidelidade que recebeu o reconhecimento da alta qualidade de seu trabalho. Insistiu nos estudos, formou-se e doutorou-se. Logo após tornar-se doutor, viajou pela Europa, conhecendo novos lugares e ampliando sua experiência e conhecimentos. Ao voltar para Lisboa, interessou-se pela política, com a qual estreitou fortes laços, obtendo grande sucesso como parlamentar.
É um forte opositor de Calisto no Parlamento. É um homem balofo, afetado, pomposo e com um linguajar complicado que gerava a irritação de Calisto. Aparentemente, trata-se de uma personagem baseada em uma pessoa real, que seria uma tentativa de Camilo ridicularizar o bispo D. António Aires de Gouveia, lente, ministro e par do Reino.
Calisto sempre insistia que não era possível compreender nada do que Libório falava, devido ao lingajar rebuscado. Assim, o parlamento passou a ser palco de embates calorosos entre os dois parlamentares. Mas aos poucos, Calisto vai se aproximando dos políticos ligados ao governo ao mesmo tempo em que passa a ter um discurso similar ao de Libório.

8. Brás Lobato

O mestre-escola, professor de primeiras letras, secretário da junta de paróquia, e ex-sargento das milícias de Mirandela. Concorreu e perdeu para Calisto na eleição para representar Miranda no Parlmento. Para não ficar sem nenhum reconhecimento, foi nomeado secretário local.

9. Abade Estevães

Era colega transmontano de Calisto. Homem de anos e doutrinas monárquico-absolutas. Foi importante interlocutor de Calisto na fase inicial, na qual este era rígido de espírito, em relação ao juramento no Parlamento, absolvendo-o do perjúrio, dizendo que não era sério, porque já de si o juramento era irrisório e mera brincadeira de nenhum peso na balança da justiça divina. Era menos letrado que Calisto, mas era mais experiente e capaz em crítica da história. Por delicadeza, fingia engolir as histórias do morgado. Foi útil a Calisto logo no início do mandato como orientador em relação ao que era adequado ou não fazer no Parlamento. O narrador chega a nomeá-lo amigo de Calisto (p. 31). Amava a música pelo muito amor que tinha à guitarra, delícias da sua juventude, e consoladora da velhice (chegou a levar Calisto ao teatro, p. 34). Várias vezes advertiu Calisto da necessidade de reformar o vestido, e entrajar-se conforme o costume. Era a única pessoa que contrariava Calisto tentando orientá-lo. Depois que Calisto começou a viver uma vida de traição conjugal, afastou-se.


10. O Narrador

         O narrador é uma importante personagem na obra, o qual evidencia uma forte empatia com a personagem principal, o deputado Calisto. Em toda a trama, o narrador acompanha as atitudes de Calisto e das demais personagens, mas o texto não deixa dúvida de que o narrador torce pelo sucesso da personagem principal. O narrador também se funde com Camilo, o autor da obra. Há um momento da história no qual o narrador afirma em primeira pessoa que Camilo leu um dos livros dele (narrador), que aqui parece coincidir com o autor (Camilo) e que provocou fortes emoções ao coração de Calisto. 

Conclusão

        O título da obra pode sugerir, em um primeiro momento, que trata de um romance no qual alguém ou um ser angelical entra em pecado. Talvez, para os conhecedores das religiões que recorrem a arquétipos como diabo, anjos, pode dar a entender que trata, por exemplo, da queda do Mal. No entanto, trata-se de uma novela, um romance satírico que retrata um contexto social e político que representava bem a sociedade portuguesa da época. Parece evidenciar nessa ‘queda’ a crítica às mudanças e transformações sofridas por Portugal, mudanças essas muitas vezes rejeitadas por aqueles que não queriam abrir mão dos valores e fundamentos que regiam a sociedade daquela época. A ironia parece já estar evidenciada  no uso dos termos ‘queda’ e ‘anjo’. Tal ironia fica mais evidente à medida que o romance se desenvolve e os aspectos cômicos e risíveis tornam-se menos cômicos ao longo da história. Logo no início, quando a personagem principal, ainda na sua fase ‘anjo’ é um defensor da tradição, suas atitudes se revestem de momentos que aludem à comédia, desde à sua vestimenta até as atitudes mais drásticas. Na fase de transição e adaptação ao contexto social e político da capital, ele continua a gerar risos, mas a cada capítulo do livro, o narrador, Calisto e o leitor parecem entrar em uma empatia que favorece a composição da personagem. De modo que ao final do romance, que seria a concretização dessa queda, quando Calisto passa a viver em uma situação de adultério com Ifigênia, inclusive, com a criação de filhos, o que seria uma ‘queda’ para muitos é a mudança de paradigma para outros. Então ficam as perguntas: ‘Queda ou libertação?’, ‘Queda para quem?’, ‘Anjo ou ser humano?’, ‘Anjo para quem?’

REFERÊNCIAS:

CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. Disponível em: <https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/09/A-Queda-de-um-Anjo.pdf> Acesso em: 21 abr. 2018.

Ficha Informativa de A Queda dum Anjo https://pt.slideshare.net/JooTeixeira4/ficha-de-apoio-quedaanjo. Acesso em 12 abr 2018.

Proposta de Atividade: Amor de Perdição x Amor de Salvação

Vamos fazer uma comparação entre as obras Amor de Perdição (1862) e Amor de Salvação (1864), de Camilo Castelo Branco?
As duas histórias são muito interessantes e dão uma ideia da capacidade do autor ao criar dois mundos inspirados no amor. Um que talvez levasse à perdição e outro, à salvação. Seria isso mesmo? Descubra conosco, nas leituras e discussões. Inicialmente, se ainda não o fez, leia as duas histórias. Basta clicar aqui ou nos hirperlinks acima. Observe as personagens femininas que mais se destacam em cada obra e verifique se há pontos em comum e em oposição entre as protagonistas. Aponte aspectos das obras que as identificam com o romantismo e/ou com o modernismo. Por fim, socialize suas concepções.
Fonte: https://letradeforma.blogs.sapo.pt/49640.html

Assista ao filme baseado no livro “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco


           Assista ao filme “Amor de Perdição”, de Manoel de Oliveira, baseado na obra de mesmo nome, de Camilo Castelo Branco, no Youtube. É um filme antigo, com pouco mais de duas horas de duração e que vale muito a pena assistir. Se você já tiver lido o livro, melhor ainda. Se não leu, vai querer fazê-lo. Considero o filme bastante fiel ao texto escrito. Faça sua própria análise e poste sua crítica. Assista ao filme no seguinte endereço (ou clique na imagem abaixo): 

Links de interesse sobre Camilo Castelo Branco


Se você curte literatura portuguesa, particularmente, a obra de Camilo Castelo Branco, há uma infinidade de caminhos no mundo real e no virtual. Na web, há sites que podem facilitar sua pesquisa, por meio do acesso aos variados acervos relativos a esse grande escritor. A começar pelo Wikipédia, no endereço <https://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Castelo_Branco> você pode acessar os títulos das principais obras do autor e assim começar uma ótima aventura de boas leituras.
Muitos textos, artigos e obras completas estão disponibilizados gratuitamente. Basta você digitar “pdf” e, em seguida, o nome da obra. Por exemplo, para acessar a obra “Maria Moisés” (uma bela e emocionante história), basta digitar “maria moises pdf” no buscador de sua preferência, para ter acesso à leitura online e/ou baixar o livro para uso offline.

Há também sites gratuitos que possibilitam o acesso à obra camiliana, como o "Real Gabinete Português de Leitura", disponível em http://www.realgabinete.com.br/portalWeb/, no qual você deve clicar no campo “PESQUISA NO ARQUIVO” e digitar o assunto (Exemplo: Camilo Castelo Branco, ou o título de alguma obra dele ou de outro escritor, como quiser) e ler à vontade.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Amor de Perdição e Amor de Salvação: as mulheres na obra de Camilo Castelo Branco


Amor de Perdição e Amor de Salvação: as mulheres na obra de Camilo Castelo Branco

O escritor português Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) foi um homem à frente do seu tempo, capaz de bem compreender os valores e tradições que dominavam na sociedade portuguesa do século XIX. Destaca-se entre os grandes homens da Literatura Portuguesa pela capacidade de escrever um mundo que, ao mesmo tempo em que desvela a sociedade na qual está inserido, vislumbra o futuro. É assim que Camilo escreve o amor e as mulheres. O escritor percebe o amor como um sentimento que provoca reviravolta e libertação na vida daqueles que tiveram a experiência de apaixonar-se por alguém. Ao mesmo tempo em que descreve uma sociedade portuguesa ainda muito patriarcal, a obra do referido escritor traz à luz o papel de submissão ocupado pela mulher na sociedade, e propõe uma ruptura com a tradição ao criar personagens mulheres de alma livre, independentes e dispostas a enfrentar tudo e todos, porque libertas pelo amor. Um exemplo dessas mulheres que quebram paradigmas é a personagem Teresa, submissa por lei à vontade do pai, na obra “Amor de perdição” (1862), mas prefere ser internada em um convento a casar-se com um homem que não ama, de modo que após ser recolhida à clausura, atrás das grades, ela fala com regozijo e surpreende a todos: “Estou mais livre que nunca. A liberdade do coração é tudo”.
A presença feminina é marcante na obra de Camilo, o qual consegue reproduzir em suas personagens mulheres cujos perfis tinham plena aprovação da sociedade portuguesa, ao mesmo tempo em que havia também mulheres que saíam do padrão esperado pela sociedade, destemidas, independentes, traiçoeiras, batalhadoras e dispostas a morrer ou a abdicar da ética, da família ou da tradição, resignadas por um objetivo particular, às vezes incompreensível, como Teodora, em “Amor de Salvação”, ou que resolvem sacrificar-se em nome de um amor sem esperanças, como Mafalda, na mesma obra. Deste modo, a obra de Castelo é rica da presença de mulheres, entre elas Maria Moisés, a filha do arcebispo, a neta do arcebispo, Carlota Ângela, a sereia, a enjeitada, a bruxa do Monte Córdova, a doida do Candal, entre outras. A presente análise dirige-se às obras Amor de Perdição e Amor de Salvação.
Em Amor de Perdição, Camilo conta a história deum triângulo amoroso que tem em um de seus vértices a presença de Simão Botelho e as duas mulheres que de alguma forma tocam seu coração, Teresa e Mariana. Teresa é o objeto de amor de Simão, sua dama angelicata, a filha de um vizinho que vive uma relação de ódio com o pai de Simão. Dessa forma, pelo lado de Teodora, cujo pai tinha uma mágoa por sentir-se prejudicado por uma decisão judicial do pai de Simão. Por outro lado, o pai de Simão também não aprova a relação amorosa do filho, considerando que Teresa não estaria no nível social de Simão. Assim, desenha-se o amor impossível entre Simão e Teresa. Apesar da proibição das famílias, o casal não mede sacrifícios e se entrega de corpo e alma ao amor irrealizável. Teresa nega-se a casa com o primo Baltasar conforme proposto pelo pai e prefere a clausura ao matrimônio. Do mesmo modo, em razão inclusive de suas tentativas de concretizar o amor com Teresa, Simão termina por matar Baltasar, atitude que distancia ainda mais sua aproximação de Teresa. Simão é condenado à morte enquanto Teresa começa a namorar a morte como única opção depois que tem negado seu amor com Simão. As atitudes de decisões de Teresa e Simão indicam as típicas personagens românticas que pouco ou nenhum uso fazem da razão e agem sempre em função do sentimento, muitas vezes com atitudes que prejudicam ainda mais a realização deste amor. Presente na obra ainda a figura da mulher pura, casta que vê em um único homem a realização do seu amor, da mesma forma que Simão, embora de início tenha atitudes que levam seus parentes a tomarem-no como um arruaceiro, no amor de Teresa, Simão muda totalmente de comportamento e torna-se outra pessoa, conforme constatado pela mãe dele. Transformado pelo amor de Teresa, talvez essa seja a melhor explicação. Um aspecto inerente à obra Amor de Perdição é a presença de uma segunda mulher, que completa o triângulo amoroso, Mariana. Nas tramas de amor, é comum a presença de uma segunda mulher concorrendo pela atenção do coração do herói. Mariana ama Simão desde a primeira vez que o viu e dedica-se a cuidar de Simão e dar-lhe seu casto amor sem pedir nada em troca. Ela é filha de um ferreiro que, por fidelidade ao pai de Simão, decide proteger e apoiar o jovem em seus planos. Mariana, ao invés de agir para conseguir o amor de Simão para si, prova seu amor ao elaborar e realizar planos para manter a comunicação entre Simão e Teresa. As três personagens seguem o rumo do romance e encaram a morte como a única saída para talvez um dia se encontrarem novamente, desta vez na eternidade.
Outros aspectos de “Amor de perdição”:
- Adaptação e edição para os meios audiovisuais:
O filme “Amor de perdição”, produção de 1943, de Antônio Lopes Ribeiro, é um longa com duração de mais de duas horas, película em preto e branco. No filme, as falas das personagens são fiéis ao texto escrito, de modo que a leitura anterior à análise do filme facilita a compreensão para quem não tem maior facilidade em compreender plenamente as pronúncias do português europeu. Além das falas, a atuação do elenco parece apropriada e ser para complementar a compreensão e análise do contexto do livro.
O filme “Amor de perdição”, versão de Manoel de Oliveira, de 1978, é uma produção longa, com mais de quatros horas de duração, que é praticamente uma leitura oral da obra original, na qual Manoel não suprime nem a introdução da obra. Apesar da fidelidade ao texto original, algumas cenas parecem trazer um pouco da visão de Manoel de Oliveira, com um tom de ironia que, de alguma forma, entra em sintonia com o pensamento de Camilo Castelo Branco. Na produção, as personagens têm performance teatral, com o recurso da música para dar maior gravidade, como no trecho em que trata da fase em que Simão se aproxima da inspiração de revolucionários, que o filme põe ao fundo o a Marselhesa. No enredo, a produção chega a coincidir a voz do narrado com a voz da personagem (42’40’’) como ocorre quando o pai de Teresa a chama para dizer que ela irá casar com Baltazar e ela se nega. O filme é estruturado em episódios, de modo que o segundo episódio é iniciado com a narração feita por Ritinha, irmã de Simão, a qual se apresenta e assume a função de narradora da história por alguns minutos, retomando cenas do episódio anterior (48’47’’). O segundo episódio é marcado pela chegada de Teresa ao convento. Entra em destaque a ironia do autor presente na hipocrisia das freiras. O episódio seguinte é iniciado novamente com a narração de Ritinha (1h36’53’’)
A produção de livre inspiração “Um amor de perdição”, produzido por Mário Barroso em 2008, mantém os nomes e as principais personagens da obra original. O aspecto mais relevante talvez seja a mudança de contexto, que sai do início do século XIX para o século XX, buscando manter o caráter e a personalidade das personagens principais próximo da criação de Camilo Castelo Branco. Talvez a maior diferença esteja na personalidade de Mariana, que ao invés de manter uma atitude reservada e pudica, a personagem tem alguns arroubos de sensualidade na intenção de seduzir Simão, mas nada que saia dos limites possíveis para uma personagem que tem um sentimento de amor verdadeiro a ponto de respeitar o fato de que seu objeto de amor nutre afeto por outra pessoa. Como muda o contexto, mudam as profissões, que se mantém similares ao status social ocupado pelas personagens. Deste modo, Mariana deixa de encarnar a criada filha de um ferreiro para assumir a profissão de mecânica na oficina do pai. Apesar das supressões de muitos episódios descabidos ao contexto da cidade grande, o desfecho da história segue o roteiro original e o filme ajuda como releitura da obra original adaptada aos dias atuais.
Curtas disponíveis na rede mundial de computadores:
- Outras mulheres de amor de perdição, que podem ser foco de estudo: além de Teresa e Mariana, temos as seguintes personagens femininas: Dona Rita, mãe de Simão: (demonstra rancor em relação a Simão, mas no percurso da história o sentimento materno a leva a algumas atitudes em favor do filho, inclusive interceder a um amigo do passado para mudar o destino do filho); Ritinha, a irmã de Simão (age como um tipo de cupido entre Simão e Teresa na fase inicial do romance; mantém uma afinidade e forte sentimento fraternal pelo irmão Simão); a mendiga que entrega as cartas (não tem nome definido na história, mas tem papel essencial na manutenção da comunicação entre Simão e Teresa, por meio da cartas; chega a demonstrar certo destemor na sua função, pois mesmo chegando a ser espancada, mantém-se firme e não desiste de levar as cartas ao destino); as freiras e criada (mesmo com a presença do tom irônico do autor com a hipocrisia presente no convento; a prioresa termina por demonstrar empatia pela atitude de Teresa e chega a entrar em atrito com o primo Tadeu, em defesa da jovem fragilizada nos seus últimos dias de vida).
Em Amor de Salvação (1864), obra terminada dois anos após Amor de Perdição (1862), Camilo lança uma proposta diferente do romance anterior, especialmente em uma das personagens femininas. É assim que ele conta a história de um outro triângulo amoroso, que envolve Afonso, Teodora e Mafalda. A história envolve cenários que lembram Amor de Perdição, localizada no tempo meio século após o amor de Simão, Teresa e Mariana se tornarem eternos. Assim, Teodora aparece com uma imagem que lembra a de Teresa, especialmente pela beleza, sua condição social, clausura no convento, mas talvez as semelhanças fiquem por aí, embora Afonso, seu prometido não o saiba. Mafalda parece reencarnar a personagem Mariana no corpo e na alma. Sua atitude de casta entrega incondicional ao primo impressiona o leitor. Da mesma forma que Mariana, Mafalda é a representação dos valores e virtudes da dama angelicata do amor cortês, embora ela não seja o objeto da paixão de Afonso. Em Mafalda, Camilo mantém viva a noção da mulher pura, casta, que ama, mas que é incapaz de ferir ou fazer algum mal para alcançar esse amor. Lembra um pouco o amor bíblico que define que o amor tudo suporta, pois é assim que ela se porta, sem nada esperar. Afonso é uma personagem de certa forma diferente do herói romântico, especialmente no início da história. Sua submissão à mãe impressiona e impacienta o leitor e sua prometida Teodora. Afonso age como um homem fraco, que age pouco e tem atitudes que não inspiração a crença no seu amor e de certa forma provocam as escolhas equivocadas de Teodora. Ele chega a parecer a antecipação do homem moderno e sua depressão. Chora em demasia, tem crise depressiva, passa meses entregues ao próprio sofrimento, incapaz de tomar atitudes decisivas e, em razão disso, termina por perder Teresa para Eleutério, um homem ainda mais fraco. Teodora merece um capítulo à parte nessa análise, não porque seja uma mulher mais virtuosa e pura que Teresa, Mariana ou Mafalda, pelo contrário. Teodora é a pura realização da ironia na obra de Castelo Branco, quebrando o paradigma da mulher perfeita, pura e casta. A ironia começa pela etimologia do nome, pois Teodora tem origem grega e significa dádiva divina. Através dela, Camilo desenha um diferente perfil de mulher, talvez não pregando que a mulher pode ser o é má, até porque ela sempre pode sê-lo. A presença da mulher demônio, aquela que tudo faz para roubar o amor do herói, já existia em outras abras anteriores a Teodora. O diferencial de Teodora é que ela é a personagem central, é a mulher prometida, criada na religião para um único homem, e que sai do perfil de mulher submissa à eterna espera da atitude do seu amado. É assim que ao descobrir que precisa esperar por Afonso durante mais dois anos no convento, Teodora aceita a corte e casa com Eleutério, um homem pelo qual ela não sentia nem amor, nem admiração, nem respeito. Teodora rompe com o paradigma da mulher prometida para um único homem, ou da mulher que é entregue pela mão ao homem prometido. Ela rompe com a tradição de passividade e submissão feminina e escolhe, dando-se ao direito de fazer escolhas equivocadas. Ao longo da história, o leitor descobre que Teresa não é a mulher anjo e é ela quem encarna o perigo, o mistério e a realização do mal na história. Afonso é apático demais para descobrir essa verdade. Os anos se passam e Teodora volta à vida de Afonso, o qual desta vez se entrega de corpo e alma a uma vida conjugal ilícita com Teresa, agora uma mulher casada que abandona o marido para viver com Afonso. Este enfim toma uma atitude atendendo ao desejo do coração e abdica dos valores ainda importantes na sociedade do final do século XIX, vai morar com Teodora e não faz ideia que agora é que os seus problemas estão começando e não é em razão dos valores abandonados. Amor de Salvação tece uma trama que em Teodora abandona o padrão do amor romântico, adotando uma concepção mais moderna da relação conjugal e do espaço e direitos da mulher como ser humano, portanto com direito a fazer escolhas corretas ou equivocadas, de ser alguém do bem, ou do mal, se assim escolher. Ao mesmo tempo, em Mafalda, Camilo resgata o amor puro e casto, mesmo que ele não seja o primeiro amor ou o amor à primeira vista. Afonso conhece Mafalda e chega a rejeitá-la como esposa, mas ao longo da trama e das tantas escolhas equivocadas ele chega a sentir-se indigno do amor dela. O resgate do amor romântico parece se dar em Mafalda, que se revela na trama como a verdadeira heroína da história, sempre presente e submetendo-se e servindo a todos, com pureza de alma e sem expectativas, mantendo guardado um eterno amor por Afonso, o qual só chega a se realizar depois de muitos anos, quando ela menos esperava.
Por fim, cabe registrar um aspecto ainda em fase de pesquisa, que é um possível diálogo, ou mera coincidência, entre parte da trama e algumas personagens de Amor de Salvação e a novela brasileira Vale Tudo, do autor Gilberto Braga (1988). A novela brasileira teve como centro o triângulo amoroso Afonso, Maria de Fátima e Raquel. Afonso é um jovem fraco dominado pela mãe, Odete Roitman, uma personagem inesquecível entre os brasileiros, dada a força, inteligência, frases de efeito e sua dominação sobre os filhos na trama nacional. O aspecto em comum entre a novela de Braga e o livro de Castelo, no tocante à mãe e ao filho limita-se à dominação da mãe e a fraqueza do filho, batizado com o mesmo nome nas duas obras. Outro fator é que o Afonso da novela se apaixona por Maria de Fátima e é fortemente enredado fortemente ao cair na armadilha amorosa montada pela própria Maria de Fátima. Embora diferentes nos nomes, Maria de Fátima e Teodora têm muito em comum, inclusive a frieza e a capacidade de trair o marido sem nenhum tipo de culpa. As demais mulheres, que completam o triângulo amoroso, Raquel e Mafalda, em Vale Tudo e em Amor de salvação, respectivamente, também não são muito diferentes. Por fim, ao menos parte do romance de Castelo Branco aborda a questão das máscaras por meio da construção da personagem Teodora, cuja máscara é totalmente arrancada ao final da trama. Ao que parece, o tema da novela trata diretamente da mesma temática da máscara, trazendo à tona uma realidade mais ampla a ser desmascarada, que seria a sociedade brasileira. Em “Amor de Salvação”, Mafalda é o símbolo da salvação de Afonso. No entanto, o autor optou por abdicar do padrão literário romântico que irremediavelmente condenaria à morte a anti-heroína Teodora e a deixou seguir sua vida, inclusive com indicação de que a personagem continuou a enredar novas vítimas na sociedade, tornando-se um tipo de mito da mulher fatal. Seria essa atitude do escritor exatamente a sinalização de que uma nova sociedade estava em construção, na qual a força, o espaço e os direitos da mulher começavam a ser colocados em evidência? Se fosse, seria essa a melhor opção? Ou será que o final da trama de Castelo é a mesma do final de Vale tudo, na qual Maria de Fátima simplesmente se aceita como indivíduo e assume seu lado mulher-hidra ao conseguir um novo casamento por interesse com um príncipe rico. Por coincidência, uma das últimas informações sobre Teodora ao final de Amor de Salvação é que ela foi vista com uma nova vítima em um camarote de algum teatro pelo mundo afora.
Outras mulheres de “Amor de salvação”, que podem servir de mote para estudo: além de Teodora e Mafalda, as seguintes mulheres têm algum tipo de representação na trama: Eulália, a mãe de Afonso, fidalga de Ruivães, santa senhora; a mãe de Teodora, amiga de Eulália, com a qual selou o futuro matrimonial da filha; a mendiga?; Elvira e Benedita; Libana; e as primas de Afonso.

Concluindo...
Uma leitura inicial pode dar a impressão de que talvez dois livros com menos de cem páginas cada um não tenham muito espaço para reflexão. No entanto, o processo de comparação entre as duas obras dá origem a um processo no qual as características de algumas personagens, os aspectos em comum e as diferenças dão origem a questionamentos, curiosidades e dúvidas que levam o pesquisador ao aprofundamento na vida dos integrantes da trama. Assim, podemos perceber a importância da presença da mulher nas duas obras e dos diversos perfis de caráter e personalidade em cada história lida. Assim, encontramos personagens tipicamente românticas, como a dama angelicata, típica do amor cortês, e também da mulher-demônio, além dos primeiros sinais de personagens que trazem traços menos românticos e mais modernistas, movimento literário que se tornaria mais forte na virada do século XIX para o XX.

REFERÊNCIAS
BRAGA, Gilberto; SILVA, Aguinaldo; e BASSÈRES, Leonor. Vale Tudo. Novela da rede Globo de Televisão, 1988.
BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição. Leya, 2015.
___________________. Amor de salvação. No. 1. Casa da Viuva More-Editora, 1864.
RIBEIRO, Antônio Lopes. Amor de perdição. Filme de 1943, baseado no romance do escritor português Camilo Castelo Branco. Acesso em 10 set 2017. <https://www.youtube.com/watch?v=dxDxCOxhSGw>.
OLIVEIRA, Manoel de. Amor de Perdição. Filme de 1979, baseado no romance do escritor português Camilo Castelo Branco. Acesso em 10 set 2017. <https://www.youtube.com/watch?v=u2IOqt2WVV8>.
BARROSO, Mário. Um amor de perdição. Filme de 2008, livremente inspirado no romance do escritor português Camilo Castelo Branco. Acesso em 10 set 2017. <https://www.youtube.com/watch?v=-NowGnJGbjY>.

A obra de Camilo Castelo Branco

Este blog tem o objetivo de abrir mais um espaço público para discussões, reflexões e estudo da obra de Camilo Castelo Branco (1825-1890). Aqui nós podemos trocar ideia, compartilhar conhecimentos e fontes que nos permitam conhecer a produção desse grande ícone da literatura portuguesa, que tem servido de fonte de inspiração de especialistas do mundo inteiro.
Seja sempre bem vindo! Poste comentários, tente tirar dúvidas e junte-se a nós nessa aventura!
Erenildo Queiroz de Souza